Tem sido difícil escrever alguma coisa, porque é-me difícil expressar por palavras todos os sentimentos e emoções que me têm assolado ultimamente. Por vezes, ao ler um poema ou ouvir uma música penso: "parece mesmo que ele entrou dentro do meu coração e conseguiu pôr por palavras aquilo que eu estou a sentir agora!".
Então, e como voltei a não consegui escrever nada de jeito, fica aqui um poema daquele que é um dos maiores escritores do nosso país:
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernado Pessoa